Consciência Fonológica nos Transtornos de Desenvolvimento

Se para uma criança que não tem nenhuma dificuldade já é fundamental desenvolver o trabalho de consciência fonológica, para uma criança com algum tipo transtorno é imprescindível que esse trabalho seja realizado de maneira muito mais densa, consistente, com um engajamento ainda maior em casa e na escola e, principalmente, acompanhando de perto se essa criança conseguiu ou não adquirir essas habilidades e transpondo etapas gradativamente.

Transtornos de Neurodesenvolvimento

O DSM-V define que os transtornos do desenvolvimento são condições com início no período do desenvolvimento, em geral surgem antes de a criança ingressar na escola e são caracterizados por déficits que acarretam prejuízo no funcionamento pessoal, social, acadêmico ou profissional. Os prejuízos variam desde limitações globais, como as deficiências intelectuais, até prejuízos específicos, como os transtornos específicos de aprendizagem. Além disso, o indivíduo poderá apresentar transtornos como autismo, TDAH, dislexia, etc.

Ainda em relação à delimitação por idade, observa-se que os sintomas tendem a diminuir, principalmente se, durante o desenvolvimento, for realizada uma intervenção adequada, precoce e pontual. O prejuízo é ligado à maturação do sistema nervoso central e há cada vez mais evidências de que os transtornos mentais como um todo, possuem como base alguma alteração neurobiológica, com aspectos genéticos associados.

Nota-se que esses transtornos são sempre definidos em termos comportamentais, apresentam etiologia multifatorial (prematuridade, genética, eclâmpsia, entre outros) e, em geral, são mais frequentes em homens. É notado um alto índice de co-ocorrência de outros transtornos ou doenças. Assim, é comum que crianças com Transtorno do Espectro Autista também apresentem Deficiência Intelectual, e crianças com TDAH apresentem algum tipo de Transtorno de Aprendizagem.

Dislexia

A deficiência nas habilidades fonológicas é um dos mais importantes identificadores e causas da dislexia. 75% das pessoas com dislexia apresentam sinais de problema de processamento fonológico. Muitas definições de dislexia incluem problemas com habilidades fonológicas.

Na imagem a seguir, vemos as principais alterações em crianças com dislexia: a memória de trabalho fonológica e a consciência fonológica.

Alterações da Consciência Fonológica no TDAH

Um trabalho desenvolvido em Bauru (SP) demonstra que existem alterações significativas de consciência fonológica no TDAH. Os fatores que acarretam são:

  • Problemas atencionais; 
  • Impulsividade;
  • Autorregulação;
  • Funções executivas.

Em geral, os problemas de consciência fonológica no TDAH não são por problemas de linguagem, exceto quando há uma dislexia associada. No TDAH, os problemas ocorrem mais voltados à semântica, por exemplo.

Deficiência intelectual e Consciência Fonológica

O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais definiu que é um distúrbio que se apresenta antes dos 18 anos, afetando o desenvolvimento intelectual de uma pessoa e a capacidade de efetivamente usar habilidades para a vida diária, tornando o indivíduo dependente em diferentes níveis.

As deficiências intelectuais podem ocorrer isoladamente ou como parte de síndromes genéticas ou outras deficiências do desenvolvimento, como a síndrome de Down, a síndrome de Prader-Willi ou o transtorno do espectro do autismo (TEA).

Em 1997, nos EUA, o Congresso pediu ao Instituto Nacional de Saúde Infantil e Desenvolvimento Humano (NICHD) para trabalhar em conjunto com o Departamento de Educação com o objetivo de montar um painel com todas as pesquisas disponíveis sobre o ensino de crianças e fazer recomendações para práticas eficazes.

As conclusões dessa enorme revisão dizem que, tanto as crianças neurotípicas quanto as crianças com algum tipo de transtorno ou deficiência precisam trabalhar as habilidades de consciência fonológica.

Dados recentes mostraram que os estudantes com ID e DD podem se beneficiar de tipos similares de instrução direta e estruturada em consciência fonêmica usada com outros estudantes que precisam de apoio extra. No entanto, para ser benéfico, a instrução pode precisar ser modificada para ser mais concreta, como usar objetos como uma dica visual ou fornecer mais de um modo de aprendizado, como incorporar a linguagem de sinais além da instrução verbal (Beecher & Childre , 2012).

Por exemplo, ao chamar a atenção dos alunos para os sons iniciais das palavras que começam com / p /, pode ser útil definir um pequeno brinquedo de porco ou fazer o sinal para o porco para dar ao aluno uma lembrança visual concreta do som que está sendo aprendido. Também foi descoberto que os estudantes com ID e DD podem precisar de mais tempo para adquirir habilidades de consciência fonêmica (Allor, Mathes, Roberts, Jones, & Champlin, 2010).

Transtorno do Espectro Autista E CF

O TEA, segundo o DSM-5, é definido por déficits clinicamente significativos e persistentes no âmbito social e de comunicação, interesses restritos, fixos e intensos, além de comportamentos repetitivos, conforme a seguir:

a) Déficits expressivos na comunicação não verbal e verbal usadas para interação social; 

b) Falta de reciprocidade social;

c) Incapacidade para desenvolver e manter relacionamentos de amizade apropriados para o estágio de desenvolvimento.

d) Padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses e atividades, manifestados por pelo menos duas das maneiras abaixo: 

e) Comportamentos motores ou verbais estereotipados, ou comportamentos sensoriais incomuns; 

f) Excessiva adesão/aderência a rotinas e padrões ritualizados de comportamento;

Os sintomas devem estar presentes no início da infância, mas podem não se manifestar completamente até que as demandas sociais excedam o limite de suas capacidades.

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