A importância da alfabetização e da consciência fonológica

É preciso entender a importância da alfabetização e como ela se processa, bem como a sua relação com a consciência fonológica. 

No Brasil, atualmente, existem muitas pesquisas que correlacionam a consciência fonológica às habilidades de escrita e leitura. Ao contrário do que alguns podem pensar, esse assunto não é moda, mas sim já vem sendo estudado há mais de 30 anos em diversos países, em diferentes universidades. Sendo que os primeiros trabalhos que surgiram e correlacionaram a consciência fonológica com a alfabetização, são de Liberaman e Coll, do ano de 1974. Portanto, o que ocorre é que, infelizmente, não somos estimulados dentro da nossa cultura a trabalhar com esse tipo de literatura científica.

As pesquisas

  • Lundemberg, Olofsson e Wall – 1995, suecos;
  • Hoien, Lundberg, Stanovich e Bajaalid – 1995, noruegueses;
  • Alegria, Pignot e Morais – 1982, franceses; 
  • Elkonin – 1973, russos; 
  • Cardoso – Martins – 1995, brasileiros. 

Todos esses nomes são de pesquisadores que estudaram e estudam a fundo a consciência fonológica e, para nós, educadores, é de extrema relevância que tenhamos o conhecimento da neurociência aplicada à educação. 

As avaliações do nível da consciência fonológica de crianças em idade pré-escolar predizem muito o seu futuro sucesso na aprendizagem da leitura. Até mesmo os alunos adultos com dificuldades em alfabetização nos Estados Unidos, tem como característica em comum o fraco desempenho nas provas de consciência fonológica. 

Isso desmistifica a crença de muitas pessoas de que é necessário trabalhar a consciência fonológica apenas com crianças, pois tal habilidade também deve ser trabalhada em adolescentes e adultos que queiram melhorar e desenvolver a capacidade cognitiva, para facilitar a codificação e a segmentação dos sons. 

Para se ter uma ideia, hoje já é possível encontrar aplicativos que estimulam essas habilidades de consciência fonológica em adultos nos EUA.

Alfabetização

A alfabetização é um processo de aquisição de habilidades cognitivas básicas para serem utilizadas de modo a contribuir para o desenvolvimento sócio-econômico da capacidade de conscientização social e da reflexão crítica como base de mudança pessoal e social (Unesco, 2006). 

Então, a alfabetização é a habilidade de aquisição cognitiva básica, isto é, ler e compreender. 

Ainda, de acordo com a UNESCO, existem quatro eixos de compreensão do que é alfabetização. 

1) Alfabetização como resultado de um processo de aquisição de habilidades específicas; 

2) Aplicado, praticado e situado de acordo com o contexto; 

3) Processo de aprendizagem, aquisição de habilidades básicas.

Ou seja, sendo um processo, a alfabetização precisa ter início, meio e fim, pois servirá de base para o aprendizado da criança. Primeiro, é preciso “aprender a ler” e depois “ler para aprender”; 

4) Domínio do texto, compreensão.

Sistemas de escritas

Escrita Cuneiforme: sistema de escrita que surgiu na Babilônia, no quarto Milênio antes de Cristo e consistia na gravação de caracteres. Foi o primeiro sistema pictográfico (desenhos). Posteriormente, se transformou em inúmeros conjuntos de sinais silábicos e fonéticos.

Hieróglifos: a escrita hieroglífica utilizava imagens para representar objetos concretos. Os hieróglifos eram escritos em vários sentidos (da esquerda para direita e vice-versa, de cima para baixo…). 

Escrita alfabética | escrita Fenícia: os fenícios eram grandes comerciantes e por isso mesmo é que precisavam de um sistema de escrita que fosse mais simples para poderem fazer os seus registros. Foi então que eles perceberam que era possível desenvolver símbolos para os sons da fala e que através desses símbolos teriam várias possibilidades de escrita. 

Para facilitar todo o processo, eles inventaram e passaram a utilizar 22 símbolos que representam os sons da língua Fenícia e assim deram origem a uma escrita fonética, ou seja, a nossa escrita nasce de uma representação do som. 

Já a escrita egípcia, por exemplo, era algo muito mais complexo, pois eles utilizavam mais de 700 sinais. Por outro lado, o alfabeto Fenício possibilitava a qualquer pessoa  a capacidade de ler e escrever. 

Assim, o fonetismo (sistema de palavras) passou a ser decomposto em unidades sonoras. Eles tinham apenas consoantes, depois o alfabeto grego inseriu as vogais no alfabeto Fenício, que resulta no alfabeto completo que utilizamos hoje.

Nesse sentido, podemos dizer que a alfabetização é o resultado de um processo de aquisição de habilidades cognitivas específicas. A alfabetização não é um processo passivo e sim ativo de mediação. Não é algo natural, como andar ou falar, mas sim um processo cultural e social, por isso é que precisamos ser estimulados quando crianças para alcançarmos as habilidades de leitura e escrita. 

Conforme a representação das competências de leitura segundo Scarborough (2001), podemos observar que é necessário ter uma base para poder chegar na compreensão da linguagem (conhecimento, vocabulário, estrutura da linguagem, raciocínio verbal, nível de alfabetização) e todos esses aspectos precisam andar em conjunto para que o processo de leitura e de escrita aconteça de forma adequada.

Na imagem acima, temos uma representação gráfica do que é necessário para ter uma leitura fluente e a consciência fonológica figura como uma habilidade primária para o desenvolvimento de todas as etapas da leitura.

Leitura

Para aprender a ler são necessárias três habilidades básicas: reconhecimento de palavras, compreensão e a fluência. O reconhecimento de palavras é uma habilidade primária, além de ser requisito para as demais.

Dentro do reconhecimento de palavras, trabalhamos as habilidades logográfica, alfabética e ortográfica, logo.

  • Leitura logográfica: nesse estágio, a leitura consiste no reconhecimento visual de palavras comuns que a criança encontra com frequência. Então, ela olha e reconhece seu nome, marcas de produtos, mas não porque decodificou o que está escrito, e sim pela memória visual.
  • Escrita logográfica: a escrita também se resume a uma produção visual global, sendo que a escolha e a ordenação das letras ainda não estão sob o controle dos sons da fala. Um exemplo disso é quando a criança desenha o seu nome.
  • Alfabética (rota fonológica): a rota fonológica é tida como uma das rotas mais importantes dentro do desenvolvimento do reconhecimento de palavras. Esse estágio alfabético caracteriza-se pelas relações que se fortalecem entre o texto e a fala, com o desenvolvimento da rota fonológica.

Nessa etapa, a criança aprende o princípio da decodificação da leitura, começa a perceber e a correlacionar letra e som. Lembrando sempre que primeiro se aprende a ler e depois a escrever, pois a leitura exige menos mecanismos neurológicos do que a escrita. 

É a partir daí que a criança aprende que é preciso memorizar essas palavras para que possa fazer uma boa pronúncia na leitura e uma boa produção ortográfica na escrita. Por exemplo: percebe que churrasco tem som de “x”, mas se escreve com “ch”. 

Quando a criança passa por esse estágio alfabético, ela tem que aprender regras de correspondência entre grafemas e fonemas. Já no estágio ortográfico, a criança pode concentrar-se na memorização das exceções às regras. 

Portanto, é necessário fornecer um enorme acesso à leitura e a escrita para que a criança tenha a sua fase alfabética bem trabalhada.

A fase alfabética é a mais importante no processo de aprendizagem, pois se o indivíduo consegue entender a regra, passa a fazer o que chamamos de sistema autogerativo; se ele é capaz de entender a decodificação da língua em que está inserido, consegue ler qualquer palavra, por mais difícil que ela seja. 

São dois os processos cognitivos que passam pela estratégia alfabética (rota fonológica): 

1) perceber os fonemas da palavra, sons discriminados = processamento fonológico. 

2) correspondência letra-som: percepção de quais letras se deve colocar em cada pedacinho.

É bastante comum que os alfabetizadores estimulem primeiro a correspondência letra-som, mas isso não deveria acontecer, pois a primeira coisa que deve ser estimulada é a consciência fonológica, pois assim a relação entre o som e a letra torna-se natural para a criança. A segmentação dos sons (por exemplo: “f” som de “fu”) deve ser última coisa a ser trabalhada (consciência fonêmica). Antes disso, é preciso investir em rimas, aliteração e outras coisas.

A consciência fonológica e o processamento fonológico

O processamento fonológico é a capacidade de utilizar informações fonológicas para processar a linguagem oral e a escrita, englobando capacidades como a discriminação, memória e produção fonológicas, bem como a consciência fonológica (Avila, 2004 clt. por Nascimento, 2009; Lopes, 2004). Assim, a consciência fonológica faz parte do processamento fonológico. 

O processamento fonológico recorre à estrutura fonológica ou a sons para aprender a decodificar no plano escrito e envolve: 

  • A consciência fonológica e o sistema alfabético
  • Discriminação fonológica: capacidade de discriminar os fonemas 
  • Memória fonológica: capacidade de memorizar palavras, sílabas e fonemas. Ex: capacidade de perceber que o “ba” da palavra barriga é o mesmo que o “bá” de Bárbara;
  • Produção fonológica: articulação das palavras e uso dos fonemas na fala. 

A consciência fonológica é a consciência de que a fala pode ser fragmentada em sons e que cada uma dessas unidades pode ser rearranjada em novas palavras. Portanto é a percepção de que a fala é composta por frases, que são formadas por palavras, que possuem sílabas e que essas sílabas têm letras e sons. 

A correspondência grafofonêmica é o ensino direto da correspondência de grafemas (letras) e fonemas (sons). Os sons da nossa fala são produzidos pelo nosso aparelho fonador e são chamados de fonemas. Na escrita, representamos os fonemas por meio de letras, que é o que chamamos de grafema

Por exemplo: bola | bota 

Ou seja, se trocarmos um som, é possível mudar tudo. 

  • Fonema é a representação sonora
  • Grafema é a representação gráfica do fonema 

Diante de tudo isso, o que podemos perceber é que a base para a alfabetização é a consciência fonológica. 

Gostou? Deixe o seu Comentário:

Entre em Contato